Depois
de um plantão estressante no jornal tudo que eu precisava era de uma
cerveja gelada. Para isso não perdi tempo, sem passar em casa cheguei ao
Buteco do MagnÃfico. Não era nenhuma espelunca, mas também não era uma
Confeitaria Colombo, porém era o meu reduto e às 2 horas da madrugada
não tinha lugar melhor.
Na mesa encostada perto do balcão antigo estava minha cadeira, ao redor
já estavam meus fiéis companheiros, Magno (MagnÃfico, o dono do
estabelecimento), Seu Fidalgo (O Professor, um senhor de 70 anos,
professor universitário aposentado), Carlos Santos (O Pró) e Constantino
(O Consta).
Da turma faltavam ainda o Alexandre (Xandão, que por ser policial
militar estava de serviço) e Valdomiro (Nariz de Cera, um engenheiro
competente que enriqueceu com o trabalho, porém tinha sérios problemas
com as drogas, quando sumia já sabÃamos que tivera uma recaÃda).
O local estava animado e cheio, como eu estava com muita sede nem
reparei na bebida dos meus companheiros, lá pelo quinto copo o Professor
chamou minha atenção. Consta que não bebia água para não assustar o
fÃgado, desta vez tinha como companhia um pequeno copo descartável de
refrigerante. Assustado não entendi a situação, segundo Magno ele já
tinha entrado no bar com esse recipiente na mão.
Consta era um homem divertido e sem estudo, trabalhou como motorista a
vida toda, foi caminhoneiro, motorista de ônibus e hoje de segunda a
quinta era taxista, no restante dos dias era “butequeiro”. Ao entrar no
bar já pedia:
- Quero um duplo presidente quente, única dupla que não é gay, sertaneja e não abandona você.
Nesse momento era servido para o amigo um copo de cerveja e uma dose de conhaque com uma pitada de tequila.
Mas
naquele dia ele estava diferente, sem brilho nos olhos começou a
explicar o porquê do refrigerante. Segundo Consta, ele tinha apenas seis
meses de vida e por isso queria estar sóbrio para quando este dia
chegasse. Naquele momento todos da mesa ficaram sem reação. Vendo a cena
o moribundo movido a “refri” completou:
- Não fiquem assim meus amigos! No inÃcio eu estava triste, agora fico pensando qual será esse dia, por isso nada de álcool.
Neste
momento o Pró, um técnico de enfermagem que se achava o melhor médico
do mundo interferiu, questionou quem era o clÃnico que atendia o Consta e
se ele teve acesso ao seu prontuário. Um silêncio tomou conta do boteco
e o rapaz se sentiu um Deus. Sem chance para interferências continuou:
-
De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), através da
Resolução n° 1.638/2002, prontuário do paciente é um documento único,
constituÃdo de um conjunto de informações, sinais e imagens registradas,
geradas com base em fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do
paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e
cientÃfico. Ao final, antes de concluir tomou um gole de cerveja e
sorriu satisfeito.
O Professor, um homem sábio que vivera muitas guerras na vida, exilado na época da ditadura militar, não resistiu e desabafou:
- Seu vulgo Pró vem da palavra prolixo, porém deveria ser Bu, de Burro, pois não enxerga que nosso amigo esta passando por um momento difÃcil e fica falando devaneios.
Caros leitores aguardem na próxima semana o desfecho dessa
estória: “Senhor Morte e a revelação”.
Gostei dos amigos de buteco, seria bacana mais estórias com eles...estou na espera da continuação desta.
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