terça-feira, 6 de novembro de 2012

Entre o sagrado e o profano



Maria Joaquina era uma menina linda de pele morena e de olhos azuis, com o cabelo preto que chegava a doer às vistas. Muito religiosa, só pensava em ser freira no convento da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, na cidade de Ilhéus. Ao completar 18 anos seu desejo foi atendido pela mãe, que também estava muito feliz em ver a filha seguir o caminho religioso.
No convento, Joaquina foi recebida pela Madre Gertrudes, que só de clausura tinha mais de 65 anos. Na chegada, a regente do local, já chamou a atenção da moça por causa de suas roupas, logo em seguida ordenou que a noviça vestisse o hábito. Naquele dia em Ilhéus fazia mais de 42 graus, na sombra.

A primeira coisa que Joaquina deveria fazer era se apresentar ao Padre Noberto, um senhor de 50 anos, que estava cansado de suas obrigações religiosas, e ficava no convento só pra ouvir a confissão das freiras, e com isso saber dos pecados alheios.

A noviça entrou no confessatório e ficou esperando o padre, a demora do pároco fez a moça desmanchar de suor. Cansada de esperar, Joaquina resolveu ficar mais a vontade para se refrescar e respirar. Ficou tão a vontade que nem viu Padre Noberto chegar, ele por sua vez também ficou quieto, só observando a beleza da nova freira, que exibia os seios fartos e as coxas grossas molhadas de calor. 

Não entendendo a demora, Madre Gertrudes resolveu interferir e abriu o confessatório, de lá saiu um padre todo desconsertado e como dizia os mais velhos, pronto para a batalha dos sexos. Percebendo a sua descompostura o pároco esbravejou que Joaquina era a reencarnação do pecado na terra, e começou a gaguejar:

- Kina Tentação, quer me separar de Deus, Kina Tentação, quer me separar de Deus.
Sem dar chance de a moça argumentar, Noberto saiu do local, feito um louco.

Gertrudes, sem pensar, deu uma surra na candidata a noviça, e logo em seguida expulsou a moça do convento, apenas de calcinha.

- É assim que você, Kina Tentação, será vista por todos, como um lixo, um objeto do pecado e destruição da família, sacramentou a Madre.

A moça saiu perdida pelas ruas de Ilhéus, sendo motivo de piadas e da luxúria dos homens. Logo a notícia se espalhou e Kina Tentação, como era conhecida agora, foi também rejeitada pela mãe, que com vergonha mudou de cidade, sem dizer pra onde iria. Perambulando pelas vielas sujas dos piores bairros da cidade baiana, Joaquina viveu as piores experiências de sua vida.

Apesar de tantas humilhações e de ter seus sonhos usurpados por homens e por uma sociedade preconceituosa, que a julgou sem conhecer os fatos, Kina Tentação, nunca perdeu a fé, por isso rezou bastante, pra nunca desistir de mudar a realidade em que se encontrava. E foi numa dessas orações que a moça encontrou Lupanar, uma coroa alta e loura, digna de parar o trânsito.

A loura não revelava sua idade pra ninguém, dizia apenas que a cabeça era jovial, o corpo de menina e por dentro tinha o calor de uma loba no cio. Não era por menos que seu nome em latim significa "covil de lobas". Aliás, “Covil de Lobas”, era o prostíbulo mais animado de Cachoeira Preta, há 30 km de Ilhéus, e pertencia a Lupanar. Muitos homens, importantes ou não, saiam de lugares longínquos, só para frequentarem o estabelecimento.
E foi numa ida a Ilhéus, que Lupanar viu Kina Tentação. A moça rezava em frente à igreja que fica ao lado do convento de onde fora excomungada.

- Já ouvi falar de você! Não é possível que você esteja pedindo pra voltar a morar neste antro de desajustados, perguntou Lupanar.

- Não minha senhora! Estou pedindo pra Deus manter o meu corpo e beleza, pois será com eles que ganharei dinheiro para sair dessa vida, disse Kina.

Lupanar sorriu e não pensou duas vezes, levou a moça embora da cidade. Logo Kina moraria no Covil de Lobas, e também se tornaria a mulher mais bela e disputada do prostíbulo. A moça amadureceu tanto, ganhou tanta personalidade, que agora escolhia a dedo com quem ia pra cama, na maioria das vezes, lucrava sem tirar uma peça de roupa.

E uma coisa chamava mais a atenção do que a beleza de Kina Tentação. Toda vez que ia pra cama com um cliente, a moça, muito religiosa, rezava o terço. Isso deixava os homens impacientes, desesperados e loucos, muitos falavam mal, porém a morena nem ligava.

- Se estou aqui no profano é por causa do sagrado que me preservou, dissimulava Kina Tentação. Que ainda repetia a frase em latim e num tom de oração “Sum, propter profanos etiam hic sacram esse defendit”.

A frase suava tão sexy, na boca carnuda daquela morena sensual de olhos azuis, que os homens ajoelhavam aos seus pés e rezavam uma missa inteira com ela, aliás, duas missas, uma em português e outra em latim. Dessa forma saiam esgotados, pagavam o coito e ainda o dízimo.



Um comentário:

  1. Muito boa, olha que dá para rodar essa estória hein? Parabéns!

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