quinta-feira, 9 de junho de 2011

Memórias tristes de um jornalista (parte II)


Foto- Cris Oliveira - Arte- Willian Arantes

Do vício a prevenção Track, track, track, Esse é o barulho da pedra de crack queimando no cachimbo improvisado num canudo de caneta. O usuário é Sombra, como gosta de ser chamado, um garoto de apenas 17 anos. O olho de cor castanha parece sempre perdido, os cabelos sem cor definida, por causa dos dias sem banho que afetam a pele também, bastante encardida. O corpo franzino, desgastado pelo vício em pedra, apelido da droga que tomou conta do país de uma forma avassaladora, entrega que esse menino entrou para essa vida, sem rumo, há muito tempo.
Sombra não gosta de conversa e nos momentos em que não está fumando parece meio eufórico, às vezes paranóico. Em um instante de lucidez explica o motivo do apelido. Segundo o próprio, ele só aparece à noite, como uma sombra negra. Vive perambulando pelas ruas do bairro Ano Bom. Durante o dia dorme, mas não revela onde.
O diálogo com esse menor usuário é meio enrolado. Em muitas vezes ele se torna agressivo, em outras se comporta como alguém instruído. Fala de filósofos, em estudar Direito e até cita Friedrich Nietzsche, pensador alemão, muito usual nas faculdades de psicologia e jornalismo.
Questionado sobre onde aprendeu essas coisas, Sombra desconversa, diz que aprendeu a ler nas ruas, que o crack dá essa possibilidade para ele. Quando o assunto é família, ele trava, fica sem graça, parece lembrar-se de algo que não está muito longe. De repente, leva o cachimbo à boca e fuma mais uma pedra. De longe, dois homens o observam e ele se afasta é diz que vai embora. Perguntado se são amigos usuários, apenas ri. Os dois estão bem vestidos, parecem mais traficantes. Sem pestanejar, o garoto diz: “O crack não escolhe roupa, classe social ou sexo, além do mais não tenho ‘grana’ para bancar traficante”, e atravessa a rua. Como vive nas ruas, Sombra sustenta o vício através de pequenos furtos e roubos.
Problema social, mais um usuário, uma estatística para a polícia e para a saúde pública. Como se enquadram os muitos “Sombras” existentes em Brasil? existe uma solução? como combater a epidemia da droga? Talvez essa série de reportagens, intitulada Na Sombra da droga, não traga as repostas, mas fará no mínimo uma reflexão sobre como a maconha, a cocaína, o crack e demais entorpecentes geram uma violência familiar e social.
PREVENÇÃO
No sentido de manter as crianças longe das drogas, a Polícia Militar do Rio, tão criticada às vezes por algumas ações, desenvolve um projeto pioneiro. O Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) constitui uma medida preventiva, complementar às operações de repressão ao uso indevido e tráfico de drogas no estado, sendo uma forma de atuação da corporação voltada para a prevenção ao consumo de drogas e violência contra e entre crianças e adolescentes.
O Proerd é desenvolvido pela PM em parceria com os governos federal, estadual e municipal. O objetivo é esclarecer os malefícios que a droga pode trazer à vida dos usuários e familiares e transformar estudantes em agentes multiplicadores de ações que previnam o uso das drogas. Atualmente o programa existe em quase todos os estados do Brasil.

Por Tiago Rodrigues

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