quinta-feira, 7 de julho de 2011

As redes sociais e a imagem das organizações (II)

Como prometido o restante do texto sobre redes sociais e Comunicação Empresarial – Síntese: um roteiro para facilitar a construção de um projeto de auditoria de imagem para as redes sociais.
*Wilson da Costa Bueno

Uma dica fundamental: em todos os casos de um projeto de imagem nas redes sociais, será necessário um período de teste para avaliar a consistência das categorias de análise, a abrangência dos sistemas de busca e mesmo a adequação dos protocolos definidos para a consolidação dos dados. É boa prática em pesquisa proceder a um pré-teste para calibrar os instrumentos de análise e ela se aplica (e como) também a esta situação particular. Recomenda-se que este período não seja muito reduzido porque estamos lidando com realidades novas (os projetos tradicionais de auditoria já têm sido há anos testados na prática, mas os que envolvem as redes sociais, não) e a pressa, nesse caso, é mais do que nunca inimiga da perfeição. Esta deve ser buscada, mas nunca será obtida nos trabalhos em comunicação porque ela, assim como as ciências humanas em geral, têm a mania de serem desobedientes, rebeldes, com contornos às vezes surpreendentes, não flagrados por instrumentos toscos.
Há equívocos recorrentes e que podem (e costumam) ser cometidos nos projetos de monitoramento das redes sociais, mas dado o escopo deste artigo, vamos mencionar apenas três deles, talvez os principais: a) fazer este acompanhamento por um período curto ou esporadicamente e não vê-lo com uma perspectiva essencialmente estratégica; b) ter como objetivo o desejo de neutralizar /calar as vozes divergentes - pressionar os adversários nas redes sociais; c) ignorar que as redes sociais não podem ser controladas porque não têm fim ou começo, grandes líderes etc.
No primeiro caso, não se pode repetir o erro de organizações que contratam, de vez em quando, projetos de auditoria de imagem apenas como mero registro ou curiosidade. Ou a auditoria vai ser feita sistematicamente para permitir a intervenção imediata ou ela não tem qualquer valor estratégico. Se é para avaliar a "brincadeira" tem que ser para sempre porque organização séria não brinca de faz de conta, tipo "vamos ver o que estão falando da gente na rede"?
Já a intenção de descobrir e silenciar as vozes discordantes, que impactam a imagem ou reputação das organizações, não faz muito sentido porque as redes sociais costumam funcionar como uma Rádio Peão planetária, muito sensível ao autoritarismo, à falta de sensibilidade ou à tentativa de pressionar blogueiros, twitteiros etc. Muitas vezes é isso mesmo que desejam aqueles que têm opinião contrária. O ideal é que a organização tenha humildade, inteligência e que tente descobrir os motivos, as razões pelas quais aquela informação, posição etc está sendo veiculada. Muitas organizações correm atrás dos efeitos e se esquecem de resolver as causas.
É sempre bom não esquecer (vale como exemplo): os twitteiros , blogueiros ou integrantes de um grupo de discussão (as tribos cibernéticas) falam mal do Speedy porque ele dá apagões sucessivos, vociferam contra os bancos porque eles cobram juros extorsivos, detonam as agroquímicas por elas emporcalham o meio ambiente com o veneno que fabricam. Ou são como eu: colocam a Monsanto, Souza Cruz, farmacêuticas ou o amianto na berlinda porque são, respectivamente, empresas e produto que andam repetidamente pisando na bola, penalizando os cidadãos. E os exemplos não ficam por aí, infelizmente, porque podemos citar a arrogância da comunicação da Vale e da Petrobras, o descaso das empresas aéreas com os seus clientes, o preconceito do Carrefour contra negros e homossexuais e os sucessivos crimes de assédio moral da Ambev. A lista é imensa e não dá para finalizá-la aqui. Mas as redes sociais se incumbem de punir exemplarmente as empresas que cometem deslizes éticos, afrontam o meio ambiente e maltratam os seus próprios funcionários (A Embraer deu de uma vez só uma facada nas costas de 4.200 "colaboradores" e achava que ia ficar de graça?).
Por fim, as organizações precisam estar cientes de que as formas de controle tradicionais não funcionam aqui (é muito mais fácil cooptar certos empresários de comunicação prometendo anúncios para impedir que os seus veículos falem mal das organizações!). Levar os integrantes das redes sociais para os tribunais, usar a mão forte da censura para impedir que falem delas, pedir o fechamento de comunidades no Orkut etc só ajuda a aumentar as labaredas, funciona como combustível para as redes sociais.
Há muitos desafios a enfrentar mas é melhor que as organizações comecem a se capacitar agora para essa luta e mudem de postura: a época do conforto institucional acabou. As redes sociais terão cada vez mais gente, serão cada vez mais críticas e perdoarão cada vez menos as mazelas, os desrespeitos, a truculência e a falta de competência ou profissionalismo das organizações. Ao contrário do que se pode imaginar, lidar com as redes sociais não é tarefa para amadores.
Ou as estruturas (e posturas) de comunicação das organizações assumem definitivamente um perfil estratégico, respaldado em bancos de dados, metodologias refinadas, visão abrangente e compromisso com o bom relacionamento com os públicos de interesse ou estarão correndo sério risco de esvaziamento ou deterioração.
O jogo está aí para ser jogado. Para vencer nas redes sociais, o segredo não está na força, mas na inteligência, na criatividade, no talento em comunicação.
A onça definitivamente vai beber água. Os profissionais éticos e que não perdoam o amadorismo em comunicação estarão, como eu, em cima da árvore, à beira do rio, vendo as organizações incompetentes, autoritárias, não profissionais que se aproximam incautas do formidável felino. As redes sociais costumam pegar estas organizações na jugular. É morte certa. Mas de agora em diante, ninguém pode alegar que foi por falta de aviso. E uma dica final: pior do que não ver a onça e ser por ela atacada é cutucá-la com vara curta. Pode ser fatal.

*Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e professor de Jornalismo da ECA/USP. Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa.

Por Tiago Rodrigues

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