Na sala de espera do
dentista folheava tranquilo uma revista Veja, quando fui indagado de forma
dura: “Você lê está merd…”? A voz de advertência ecoou em meus ouvidos como uma
bomba. Recuperado do susto ponderei que sim. Que era uma leitura habitual em
minha vida, assim como a Isto É, Época, Exame, Carta Capital, Caros Amigos,
Playboy (saiba que é possível ler imagens) e por aí vai.
Não entendo essa nova lista
de Index Librorum Prohibitorum
(Índice dos Livros Proibidos – tradução livre) do mundo moderno, só que a bola
da vez não são os livros, a perseguição agora é contra algumas revistas e
jornais, sem falar da lista negra recheada de jornalistas que não podem abrir a
boca ou escrever uma vírgula que já são crucificados. Em suma, o mais
importante deveria ser o que fazemos com uma informação recebida. A imprensa é
feita por seres humanos, passivos de erro, por isso o cidadão não pode apenas
engolir o conteúdo que lhe é apresentado, absorver uma notícia sem uma visão
crítica.
Hoje, com o fenômeno das
redes sociais, é normal, porém irracional, as pessoas compartilharem notícias
falsas, de sites, blogs, perfis e páginas fakes. Às vezes somos tão cegos ao
defendermos uma posição, que esquecemos o que é real, os fatos. E isso acontece
com pessoas de todas as classes sociais e escolaridade. Não é preciso ser um
catedrático para criticar ou se manifestar, basta sair da zona de conforto,
deixar a ingenuidade e alienação de lado. Indagar, perguntar e desconfiar
são premissas para escarafunchar qualquer coisa.
Aliás, tivemos um exemplo de
militância desastrosa, para não dizer irresponsável, com a morte do candidato a
presidência, Eduardo Campos/PSB. As redes sociais foram o ponto de partida para
notícias desumanas. O petista apontava Aécio/PSDB como o mandatário do fatídico
acidente aéreo, já os tucanos acusam a Dilma/PT, isso sem falar daqueles que
apontavam o dedo para Marina Silva, que nos bastidores lutava pra ser mais que
uma vice. Uma cachoeira de teorias conspiratórias, oriundas de informações
plantadas, sites falsos e fontes duvidosas. Dessa forma qualquer manifestação
ou posicionamento político se transforma em uma insanidade.
Portanto, manifestar, se
indignar, defender um ponto de vista e levantar uma bandeira são coisas inerentes
ao homem como um ser político, isso não faz de você um cidadão da elite branca,
amarela ou vermelha. Pois nem toda opinião é uma perseguição e, se calar não
deveria ser uma opção. Não se pode dividir a humanidade entre aqueles que
gostam do PT e os que não gostam, por exemplo.
Por convicção nunca votei no PT, não confiaria
meu voto na legenda petista nem para um presidente de associação de bairro, mas
isso sou eu (a minha opinião não pode ser absoluta). Isso não quer dizer que
sou tucano, PSB ou qualquer outro, só tenho uma opinião diferente daqueles que
parecem viver num Ensaio da Cegueira (uma alusão a Ensaio sobre a Cegueira, de José
Saramago). Para mim, no quesito partido político, todos se sentam à mesma mesa
e se servem do mesmo prato, enquanto o povo não é convidado para o banquete e
ainda come os restos.
Por Tiago Rodrigues