A votação do Código Florestal na noite de ontem, em particular, a votação da polêmica emenda 164 – quando o governo foi derrotado por 273 votos a 182 votos – demonstrou o que já era visto por todos: o governo Dilma Rousseff tem uma ampla base de sustentação no Congresso, superior a 400 deputados, mas é um bloco heterogêneo e com o qual ela não pode contar “para o que der e vier”. É uma base sólida, digamos assim, para evitar a instalação de CPIs ou criar constrangimentos para o governo; não para aprovar matérias de um governo de esquerda.
Na votação do salário mínimo, o primeiro teste do governo, Dilma mostrou seu estilo, endureceu e conseguiu vencer com facilidade a aprovação do valor de R$ 545,00 contra os R$ 600 propostos pela oposição. Salário mínimo sempre foi matéria muito cara ao PT ao longo do período em que foi oposição, mas, com Dilma, perfilou e votou conforme a orientação do Palácio do Planalto – aliás, como era de se esperar.
Agora, a situação mudou: os parlamentares ficaram divididos entre votar com o governo de plantão (muitos são governo sempre, ainda que se mude a orientação do governo) ou com as chamadas “bases”, que são mais conservadoras. Venceu a idéia de votar com a base.
A discussão do Código Florestal foi tensa desde o início e o governo decidiu partir para o confronto na última hora, quando o líder Cândido Vacarezza foi à tribuna dizer que é sempre um risco votar contra o governo, numa mensagem clara aos aliados que não seguiriam sua orientação – ou uma ameça, como diriam aliados -, e também para dizer que a presidente Dilma considerava “uma vergonha para o país” a aprovação da emenda 164.
Foi o estopim para uma reação de parlamentares do governo e da oposição. Ali, ficou claro o racha: o PT encaminhou contra a emenda 164; o PMDB, principal aliado, partido do vice-presidente, encaminhou a favor e fez apelo a seus colegas ministros para quem evitassem constranger deputados com pedidos para votarem contra; e partidos aliados liberaram suas bancadas. De mais de 400 deputados, 182 seguiram a orientação do governo.
Neste caso, o governo tentou impor o raciocício ‘quem é da base governista vota contra’, mas não funcionou. Ficou evidente que todos são governo, mas nem sempre. Alguns interesses vão falar mais alto.
* publicado por Cristiana Lôbo
Por Tiago Rodrigues
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